Questões sobre o agro no Enem geram indignação no setor

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) realizado no último (05) aplicou questões que desagradaram e geraram indignação por parte de produtores rurais, representantes do setor e políticos. As perguntas em questão, referentes à prova branca, são as de número 89, 70 e 71. Por meio de nota, a Frente Parlamentar da Agropecuária defende que as perguntas “são mal formuladas, de comprovação unicamente ideológica” e permitem “que o aluno marque qualquer resposta, dependendo do seu ponto de vista”. Para além de pedir a anulação das questões anteriormente citadas, a FAP também pretende convocar o ministro da Educação, Camilo Santana, para prestar esclarecimentos.

Uma das questões enuncia que na região do Cerrado os conhecimentos locais estão sendo subordinados à lógica do agronegócio e do capitalismo, com bens comuns – como águas, terras e minerais tornando-se propriedades privadas. O texto menciona ainda a super-exploração, mecanização pesada e chuvas de venenos.

Já o tema de outra questão aborda a grilagem de terras na Amazônia, com base em um autor que expõe o crescimento do desmatamento na região como consequência da expansão da soja. O texto afirma que este não é o fator principal para a degradação da floresta, mas reforça que o problema é baseado também na ação de pecuaristas, ao lado de madeireiros e grileiros.

Em entrevista ao Canal Terraviva, a presidente da Associação de Olho no Material Escolar, Leticia Jacintho, credita esse cenário a uma consequência daquilo que os alunos vêm estudando. “Não é uma novidade que os exames estão refletindo naquilo que os alunos estão estudando há 10 anos. É um material didático longe da realidade do setor produtivo”, conceitua Leticia.

Para o doutor em educação José Luiz Tejon, a abordagem sobre o agronegócio foi incorreta. Além disso, o doutor também enxerga a necessidade de mais opções como respostas nas questões. “Vamos colocar perguntas muito mais importantes para formar a cabeça da nossa juventude. Pergunte sobre cooperativismo, como começar uma cooperativa, liderança, começa pequeno e vai crescendo. É como se voltasse ao tempo. É impertinente”, avalia Tejon.

Os parlamentares do setor agropecuário cobram não só a anulação dessas questões como também um posicionamento oficial do governo federal sobre o tema, citando desinformação sobre o agro na pergunta. A FPA informa ainda que está tomando ações que incluem a convocação do ministro da Educação, Camilo Santana, para audiências na Câmara e no Senado; requerimento de informações sobre a banca organizadora da prova e referências bibliográficas usadas na elaboração da questão.

Em resposta, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), afirma que as perguntas do exame são elaboradas por professores independentes que são selecionados por meio de edital de chamada pública para colaboradores do Banco Nacional de Itens (BNI). O Inep também acrescenta que não interfere nas ações dos colaboradores selecionados e que o processo envolve as etapas de elaboração e revisão pedagógica, além da validação por uma comissão assessora. Segundo o instituto, os itens selecionados para a edição de 2023 seguiram todas normativas do BNI


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